O coração do obeso : saiba quais os 
danos que a obesidade causa à saúde

Um indivíduo é considerado obeso quando o seu Índice de Massa Corpórea é maior ou igual a 30. O IMC é obtido dividindo-se o peso em Kg pela altura ao quadrado, sendo o método mais utilizado para a classificação da obesidade.

A obesidade é considerada hoje uma doença crônica, que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, numa verdadeira "pandemia". Os números são alarmantes : em todo o mundo cerca de 50 a 75% da população tem sobrepeso (IMC entre 25 a 30). Nos EUA, país com maior número percentual de obesos, 28% das mulheres e 24% dos homens são obesos. No Brasil, 13% das mulheres, 7% dos homens e 15% das crianças (veja Obesidade na Infância) são obesos, cerca de 16 milhões de pessoas (fonte : Revista Veja, IBGE e Sociedade Brasileira de Pediatria). Esses números vêm aumentando a cada ano. Estudos tem mostrado que na região Sudeste do Brasil, a obesidade tem aumentado mais entre as mulheres de baixa renda e diminuído entre as mulheres de classe social mais elevada.

Além do efeito externo (estético, que pertuba a tantos obesos), a obesidade causa graves danos à saúde, o que é negligenciado pela maioria dos obesos e, segundo uma pesquisa americana 60% dos obesos não acreditam que seu sobrepeso é um risco para a sua saúde. Várias são as complicações médicas da obesidade que vão desde doenças circulatórias e dermatológicas até câncer e morte súbita (veja o quadro abaixo). São essas alterações e riscos que comentaremos abaixo, com a citação de vários trabalhos e pesquisas que demonstram e comprovam a clara relação entre a obesidade e tais doenças. 
 

Quadro 1 - Complicações médicas da obesidade
Dislipidemia Erisipela
Diabetes mellitus tipo 2 Osteoartrite
Resistência insulínica Morte súbita
Hipertensão arterial Apnéia obstrutiva do sono
Arritmias cardíacas Síndrome de Pickwick
Insuficiência cardíaca Colelitíase
Cor pulmonale Câncer de mama, endométrio e ovário
Tromboses sistêmica e renal Câncer de esôfago e estômago (cárdia)
Tromboflebite superficial Síndrome nefrótica
Fonte : Obesidade e Coração - Jornal Brasileiro de Medicina - Nov/Dez,1999



Existem dois tipos principais de obesidade, a ginecóide, onde o acúmulo de gordura se concentra nas coxas e nádegas, também chamada de piriforme, comuns entre as mulheres, e a do tipo andróide, cuja obesidade é localizada predominantemente no abdome, comuns nos homens (veja figura abaixo). Trabalhos recentes têm demonstrado que as complicações cardiovasculares são mais comuns dentre os obesos do tipo andróide, daí essas complicações serem mais freqüentes entre os homens. Outro ponto importante, é que se tem demonstrado que a obesidade abdominal, mesmo com peso corporal normal, constitui forte fator de risco cardiovascular.
 

Obesidade Ginecóide
Obesidade Andróide
Nos EUA, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte tanto para homens como mulheres, sendo responsável por 41% de todas as mortes, segundo informações da American Heart Association.

Várias são as alterações cardiovasculares ocasionadas pela obesidade, achados tais como alto débito cardíaco, congestão sistêmica-pulmonar, sobrecarga volêmica e/ou pressórica de ventrículo esquerdo, hipertrofia ventricular esquerda excêntrica e complancência diminuída, levam ao conceito da chamada cardiomiopatia da obesidade (veja na figura abaixo um exemplo esquemático do coração de um indivíduo normal - não obeso e de uma pessoa obesa). Tal conjunto de alterações levam a grande número de sintomas e outras doenças.
 

Coração Normal
Coração de um obeso

Estima que 75% da hipertensão na população em geral pode estar diretamente associada a obesidade. A obesidade ainda eleva os níveis de colesterol no sangue, aumentando o "mal-colesterol" (LDL) e diminuindo o "bom-colesterol" (HDL). Outras alterações promovidas pela obesidade inclue dando renal e resistência insulínica que leva a diabetes mellitus tipo II.

Um estudo demonstrou que homens, entre 45 e 54 anos de idade que não são obesos, têm 35% de risco de desenvolver doença coronariana durante seu vida; esse risco aumenta para 38% para os que são levemente obesos, 42% para aqueles moderadamente obesos e para 46% para os obesos severos. O risco para as mulheres é de 25% para não obesas e 29, 32 e 37% a depender do grau de obesidade. Como resultado deste risco aumentado para os obesos, estima-se um custo adicional de U$ 6.000 dólares por indivíduo gastos somente no tratamento de doenças do coração. (Fonte : American Society of Bariatric Physicians).

Ainda uma outra pesquisa mostra que cerca de 40% dos homens que sofrem ataques cardíacos e metade das mulheres com câncer de mama são obesos, e que nos grandes obesos a tendência para hipertensão e para diabetes é três vezes maior; no somatório geral, eles têm, em média, seis anos a menos de vida (fonte : Revista Veja, janeiro de 2000).
 

Por tudo isso, a Associação Americana de Cardiologia considera a obesidade como um dos maiores e principais fatores de risco para doença coronariana, ao lado do fumo, colesterol elevado, hipertensão e vida sedentária. E o que é mais grave é que a obesidade contribue (como já comentado acima) para o aparecimento de dois outros fatores de risco : o colesterol e a hipertensão. Você pode calcular o seu risco para doença coronária em diversos sites na Internet, a Sociedade Brasileira de Cardiologia oferece em seu site um questionário para avaliação on-line do riscos de doenças do coração, calcule o seu o risco e pense a respeito.

Além de todas as alterações cardiovasculares que a obesidade desencadeia, temos ainda diversas outras patologias como câncer, diabetes, colelitíase, osteoartrite, asma, dentre outras.

A obesidade como vimos, é muito mais que simplesmente uma alteração estética e/ou uma pertubação social, é um distúrbio que leva a inúmeras doenças, com sérios impactos na saúde pública, com custos altíssimos de tratamento. De acordo com a Associação Americana de Obesidade, os custos associados com a obesidade nos EUA chega aU$ 238 bilhões de dólares anuais

Existem diversas formas para o tratamento da obesidade como : dieta, medicamentos ou cirurgia (maiores detalhes em Obesidade : um panorama). Ainda o obeso pode contar com grupos de apoio para ajudá-lo a compreender a necessidade da perda de peso e incentivá-lo a tal (veja em Grupos de Apoio ao Obeso).

Estudos tem demonstrado que há uma diminuição do risco de doenças com a diminuição do peso. Mesmo uma modesta diminuição do peso (5 a 10% de perda) já consegue reduzir os níveis de colesterol e pressão arterial, diminuindo os riscos para complicações cardiovasculares. Também vários outros estudos têm comprovado que mudanças nos hábitos de vida, com a introdução de exercício regulares, eliminação do stress diário e uma alimentação saudável, leva a uma diminuição dos riscos para infarto do miocárdio e muitas outras doenças relacionadas.

No entanto, deve-se ter muito critério no momento de escolher uma dieta. Uma pesquisa recente mostrou que a mídia leiga (não médica) é a principal fonte de informações sobre dietas e que 2/3 (dois terços) dos que responderam a pesquisa já tentaram perder peso usando uma dieta retirada de revistas, televisão, jornais ou da Internet, o que é um grande perigo. A escolha do tratamento certo deve ser criteriosa e devidamente acompanhada por um profissinal de saúde (em geral médico ou nutricionista), que definirá as quantidades corretas, considerará as preferências alimentares, os objetivos a serem atingidos e assim levar o obeso a um perda de peso controlada, melhorando a qualidade de vida e diminuindo os riscos para doenças.

O governo americano está atento ao problema e visando melhorar a saúde da população e, principalmente, reduzir os gastos com as doenças geradas pela obesidade, está lançando uma grande campanha nacional de esclarecimento e combate a obesidade. Além disso, incluiu no seu planejamento de saúde (Healthy People 2010 Understanding and improving Health) o combate a obesidade como uma das prioridades, visando reduzir a proporção de crianças, adolescentes e adultos obesos. No Brasil, o governo pretende adotar um "selo verde" para alimentos saudáveis e lançar uma cartilha com um personagem da Turma da Mônica criado para abordar o assunto (fonte : Revista Veja).

O que devemos pensar é que hereditariedade, idade avançada e ser do sexo masculinho são fatores de risco que não podemos mudar, por outro lado, os demais fatores de risco para doenças do coração, como fumo, colesterol elevado, hipertensão e principalmente obesidade são perfeitamente controláveis e reversíveis, dependendo de uma grande força de vontade, esclarecimento e acompanhamento médico. 

"Os especialistas advertem : obesidade faz mal à saúde"

 
Claudio Giulliano Alves da Costa
Médico - Pesquisador Associado do NIB/UNICAMP

 
 
 
 

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