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A Criança, o Adolescente e a Prática de Atividades
Físicas
A juventude americana não participa de
atividades físicas, seja educação física ou não, o
suficiente para desenvolver a resistência
cardiovascular. Estas foram as conclusões obtidas por
estudos realizados no final da década de 90 nos Estados
Unidos.
Desta forma podemos, a
partir deste estudo, em jovens americanos, fazer uma
reflexão do que ocorre com os jovens brasileiros. Veja
abaixo, alguns pontos importantes dos estudos, quanto à:
Obesidade
Verificou-se que aproximadamente 22% dos jovens entre
6-17 anos apresentam excesso de peso, sendo que uma
grande proporção deste universo acabará se tornando um
adulto obeso.
Cerca de metade das crianças obesas em idade escolar se
torna um adulto obeso e mais de 80 % dos adolescentes
obesos também tem como fim um quadro de obesidade na
idade adulta.
Atividades físicas:
Cerca de 50% dos jovens (entre 12-21 anos) realizam
atividades físicas vigorosas e aproximadamente 25% não
participa de qualquer atividade física. Apenas 1 em cada
três estudantes do ensino fundamental participa de
educação física diariamente e essa proporção se
reduz ainda mais, para cerca de 1 em cada 5 estudantes,
quando observamos os estudantes do ensino médio.
Sexo:
Concluiu-se que o nível de atividade das meninas é
inferior ao dos meninos e tende a cair ainda mais com o
aumento da idade ou do grau escolar.
Aptidão aeróbia:
De acordo com os estudos, a aptidão cardíaca e pulmonar
dos jovens é inferior ao recomendado para a maioria dos
jovens. Cerca de 50% das meninas e 60% dos meninos (entre
6-12 anos) não consegue correr 1,5 km em menos de 10
minutos.
Como conseqüência deste estado físico debilitário,
temos a propagação e o surgimento de diversas doenças
e jovens com grande potencial de risco para doenças
pois, como pode-se observar:
cerca de 12%
dos jovens entre 12-17 anos fumam, e esta
proporção dobra se considerarmos apenas os
jovens concentrados no final do ensino médio.
Um em cada
três jovens apresenta níveis de colesterol
acima da média de 170 mg/dl considerada
aceitável pelo National Cholesterol Educacion
Program.
63% dos
adolescentes possuem dois ou mais fatores de
risco dos cinco considerados principais fatores
de risco de doenças crônicas.
A
atividade física de fato melhora a saúde das
crianças e jovens, se prolongando até a vida
adulta?
R =
A grande maioria dos especialistas acredita que
as crianças e os adolescentes necessitam de
atividades físicas diárias para se manterem
treinados e saudáveis. No entanto, observou-se
também que as crianças dificilmente se
exercitam num ritmo constante por mais de 20
minutos e preferem participar de jogos e
atividades esportivas que sejam mais do tipo
"parada e corrida". O prazer tem sido
identificado como uma das principais razões
pelas quais a criança participa de uma atividade
física. Pais fisicamente ativos servem como
ótimos modelos e suportes para que a criança se
torne ativa.
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O
Center of Disease Control and Prevention (CDC) faz
algumas recomendações afim de tornar os jovens mais
ativos fisicamente, tais como:
Não suspender
atividade físicas como modelo de punição.
Enfatizar
áreas como dança e caminhada para encorajar
hábitos que perdurem por toda a vida.
Os pais devem
se manter fisicamente ativos, juntamente com seus
filhos.
Proporcionar
atividades físicas nos tempos de ociosidade da
criança.
Enfatizar a
participação prazerosa em atividades físicas
que sejam facilmente realizáveis pelo resto da
vida.
Oferecer uma
grande variedade de atividades competitivas e
não competitivas, adequadas para a idade e os
hábitos da criança.
Fornecer aos
jovens a habilidade e a confiança necessários
para que ele se mantenha fisicamente ativo.
Crianças necessitam tanto
quanto (e até mais !) atividade física que os
adultos mas, infelizmente, há uma grande
carência de estudos que indiquem, com exatidão,
a medida necessária de atividade física para as
crianças e os adolescentes em questão. |
Em
1993, um grupo formado por organizações científicas,
médicas e governamentais, elaborou duas recomendações
a serem seguidas pelos adolescentes:
Todos os
adolescentes devem ser fisicamente ativos quase
que cotidianamente, participando de uma variedade
de atividades físicas prazerosas e que envolvam
os principais grupos musculares. Isso auxilia na
redução do risco de obesidade e promove a
formação de ossos saudáveis.
Os
adolescentes devem realizar exercícios vigorosos
como : caminhada acelerada, corrida, subir
escadas, basquete, esportes com raquete, futebol,
dança, nado de peito, patinação, exercícios
com pesos, esqui, ciclismo, etc. pelo menos três
vezes por semana em sessões de 20 minutos ou
mais. O exercício vigoroso tem um impacto
positivo na saúde psicológica, aumenta a
concentração de HDL (colesterol bom) e aumenta
a aptidão cardiorrespiratória.
Quanto à aptidão
aeróbia, as crianças podem melhorá-la após a prática
de exercícios, mas esta melhora é inferior à obtida
pelos adultos. Alguns fatores podem ser responsáveis por
essa diferença, tais como:
As crianças,
freqüentemente, possuem um maior nível de
aptidão aeróbia inicial.
Os adultos
podem treinar mais eficazmente que as crianças.
O organismo da
criança pode não ter a capacidade de se adaptar
e responder completamente ao exercício regular.
As crianças
possuem coração, pulmões e volume sangüíneo
menores. Assim, há uma menor liberação de
oxigênio para os músculos que estão
trabalhando ( o VO2 máximo não está
completamente desenvolvido até o final da
adolescência).
As crianças
possuem uma maior superfície corporal que os
adultos, desde que calculada por unidades de
massa corporal. Portanto, quanto menor a
criança, maior é o risco de perda excessiva de
calor, sendo isto particularmente preocupante
para os exercícios realizados na água. Para
prevenir a hipotermia, as crianças que brincam
ou nadam na água devem ser orientadas a sair da
água periodicamente e evitar corredeiras e lagos
frios.
As crianças
possuem uma capacidade de transpiração mais
desenvolvida produzindo, portanto, mais calor
durante os exercícios vigorosos e um aumento da
temperatura corporal mais alto em casos de
desidratação.
Apesar de todas essas
recomendações, as crianças possuem grande risco de
contrair doenças relacionadas ao calor, durante o
exercício prolongado em locais quentes. Aconselha-se
ingerir muito líquido e evitar os excessos de
exercícios no calor.Um outro ponto que merece destaque
de análise seria sobre as controvérsias quanto à
prática de levantamento de peso por crianças e
adolescentes.
Atualmente, a maioria
dos estudos apoiam a utilização de pesos no treinamento
de crianças e adolescentes, considerando-o seguro e
eficaz, desde que seja realizado sob uma intensidade
moderada e supervisionado por um adulto. O treinamento
com pesos é recomendado em sessões de 20-30 minutos,
duas à três vezes por semana e deve fazer parte de um
programa global de desenvolvimento da aptidão total.
De acordo com estudos
realizados recentemente, as crianças podem aumentar sua
força em 15-30% por meio de um treinamento com pesos
adequado. Mas, o aumento da força não está relacionado
com o aumento do volume muscular, e sim com uma melhoria
nas interações nervosas e de células musculares que
aumentam a força.
Deve-se considerar
também que a grande maioria do aumento de massa óssea
ocorre durante a adolescência, onde a prática regular
de exercícios vigorosos levarão a uma elevação do
pico de densidade mineral óssea, reduzindo o risco de
osteoporose precoce em idades mais avançadas.
As atividades diárias
e curtas são mais recomendadas que as atividades
prolongadas realizadas irregularmente. E as atividades
que envolvem aumento da massa muscular, como o
levantamento de pesos, devem ser estimuladas dentro dos
limites de cada jovem. Todos os músculos do corpo devem
ser exercitados com o objetivo de beneficiar todos os
ossos. Doenças cardíacas, câncer e outras doenças
crônicas estão relacionadas com o estilo de vida
adotado pelo indivíduo, onde certos comportamentos são
adquiridos ainda na infância e na adolescência.
Um dado importante
obtido em estudos recentes, relata a ocorrência de
problemas cardíacos fatais precipitada pela prática mal
elaborada de exercícios vigorosos, aliada a uma ampla
variedade de defeitos cardíacos, ocorridos em jovens de
segundo grau (cerca de 12 por ano, nos Estados Unidos).
Para se prevenir contra isto, a American Heart
Association recomenda pais e professores a observarem
sinais e sintomas em atletas jovens, tais como:
Uma grande
preocupação está focada no problema crescente de
obesidade infantil que aumenta a cada ano. A maioria dos
estudos realizados sugere que a criança e jovem obeso
são menos ativos fisicamente que os magros. A
inatividade, a longo prazo, aumenta o risco de ganho de
gordura corporal extra.
Concluiu-se que
programas com duração superior a um ano são mais
eficazes que os programas mais curtos. As atividades do
estilo de vida (ir e vir a pé, subir e descer escadas,
etc.) parecem possuir um efeito mais duradouro que as
atividades padronizadas (corrida, etc.).
Com a redução da
obesidade, outros fatores de risco poderão ser
controlados mais facilmente. Atividades sedentárias como
assistir TV, jogar videogame, devem se reduzidas a um
limite de uma a duas horas, no máximo, por dia, de forma
a permitir que sobre mais tempo para a realização de
tarefas mais "árduas".
Contra todos esses
problemas há uma grande batalha para que os adolescentes
não desistam da prática de atividades físicas como se
tem observado em recentes pesquisas, nas quais
constatou-se que cerca de 50% dos jovens abandonam seus
hábitos esportivos e físicos no início da vida adulta.
Em outras palavras,
cabe aos educadores físicos, elaborar métodos e
estratégias para que não somente deixe de aumentar essa
porcentagem de desistência, mas também se reduza termos
significativos essa evasão. Pois os benefícios da
atividade física para crianças e adolescentes são
aumentados a cada nova pesquisa, a cada novo estudo
realizado.
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 Antonio Ferri Junior
Bacharel em
Educação Física pela Escola de Educação Física e
Esporte da USP
Coordenador Geral do Site Personal for teens
Referências
Bibliográficas
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physical activity among young people. MMWR 46, No. RR-6.
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Journal of the American Medical Association, 275,
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Nieman, D.C. (1998). The Exercise-Health Connection.
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U.S. Department of Health and Human Services. ( 1996).
Physical activity and health: A report of the Surgeon
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Services, Center for Disease Control and Prevention,
National Center for Chronic Disease Prevention and Health
Promotion.
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