
|
Alho, Nutrição e Saúde
O
alho (Allium
sativum)
é um vegetal da família Liliacerae, sendo
encontrado na forma de raiz. Seu bulbo, vulgarmente
conhecido como cabeça, é constituído por vários
dentes, os quais são empregados como condimento
culinário e como medicamento há centenas de anos em
todo o mundo. Este emprego na culinária o coloca em
vantagem frente a outras ervas de efeito farmacológico
conhecido e desejável como o Ginkgo biloba,
por exemplo.
Antigamente, no Egito, o alho era usado para remediar a
diarréia e, na Grécia antiga, ele era empregado como
medicamento no tratamento de patologias pulmonares e
intestinais. Pesquisas recentes identificaram que o alho
possui ainda diversas propriedades dentre as quais se
destacam as antimicrobianas, antineoplásicas,
terapêuticas contra doenças cardiovasculares,
imunoestimulatórias e hipoglicemiante.
Pasteur
relatou, em 1858, a atividade antibacteriana do alho que
tem sido confirmada por diversos autores até hoje. Em
laboratório, mediante diluição em série, o extrato
fresco de alho mostrou ser capaz de inibir o crescimento
de 14 espécies de bactérias, entre as quais o Stafilococcus
aureus, Klebsiella peneumoniae e Escherichia
coli, que são bactérias potencialmente maléficas
à saúde. Isto ainda se deu, mesmo usando o extrato de
alho diluído 128 vezes.
Uma
solução de 5% preparada com alho fresco desidratado
mostrou atividade bactericida contra Salmonella
typhimurium. Isto é atribuído à alicina,
o componente chave da atividade antimicrobiana que
também é responsável pelo odor característico do
alho. A atividade antimicrobiana do alho é reduzida com
sua fervura pois a alicina é desnaturada durante o
processamento térmico.
O alho
ainda tem se mostrado ser capaz de combater o Helicobacter
pylory, a maior causa de dispepsia, câncer
gástrico e também de úlceras gástricas e duodenais.
Foi observado recentemente que 2g/L de extrato de alho
inibe completamente o crescimento do H. pylori.
Os autores concluíram que este efeito bactericida pode
contribuir para prevenir a formação de câncer
gástrico.
Esta
evidência foi comprovada num estudo epidemiológico
efetuado na China, onde foi notado que: O risco
de câncer gástrico é 13 vezes menor em indivíduos que
consomem 20g/dia de alho em relação aqueles que
consomem menos que 1g/dia. Em outro estudo, na
Itália, foi observada uma correlação negativa entre o
consumo de alho e o risco de câncer gástrico (risco
relativo = 0,8). O efeito anticancerígeno do alho parece
estar ligado à estimulação da enzima hepática glutationa
S-transferase envolvida em processos de detoxicação
de muitos carcinógenos.
A seguir, no quadro 1, podemos observar a composição
centesimal do alho.
Quadro
1 - "Raio X do Alho"
Energia |
140 Kcal |
Carboidratos |
29,3g |
Proteínas |
5,3g |
Lipídeos |
0,2g |
Fibras |
1,66g |
Potássio |
400mg |
Vitamina B1 |
0,2 mg |
Vitamina B6 |
3,33mg |
Vitamina C |
31,1 mg |
Ácido
fólico |
3,1mg |
Cálcio |
181 mg |
Fósforo |
150 mg |
Ferro |
1,7 mg |
Cobre |
0,26 mg |
Zinco |
8,83 mg |
Selênio
24,9 mg |
24,9 mg |
O que mais se destaca na composição nutricional do
alho, são os altos teores dos elementos zinco e
selênio, ambos metais antioxidantes. No organismo
humano, estes nutrientes estão envolvidos tanto direta
como indiretamente no funcionamento do sistema
imunológico.
Diversos
são os estudos que têm identificado baixos níveis
sangüíneos tanto de selênio como de zinco, em
pacientes portadores de patologias como a AIDS, onde o
sistema imunológico encontra-se gravemente debilitado. A
prescrição dietoterápica atualmente feita para tais
pacientes preconiza o consumo de alho, entre outras
coisas. Há estudos que apontam para uma atividade
anti-viral do alho. Neste sentido, seu consumo também é
indicado para casos de resfriado, gripe e nas viroses em
geral.
A
propriedade imunoestimulatória do alho está, também,
relacionada à presença de substâncias encontradas no
seu extrato (dialil trisulfito e dialil sulfito) que
estimulam a imudidade de uma maneira geral (estimula a
proliferação de células T e de citocinas produzidas
por macrófagos). Neste sentido, estudos têm demonstrado
que o alho atua estimulando tanto a imunidade humoral
como a celular.
Outro
efeito nutracêutico notável do alho esta relacionado
aos benefícios cardiovasculares que ele proporciona. O
consumo regular de alho reduz o nível do colesterol
sérico total, evita a agregação plaquetária e também
possui atividade antioxidante, prevenindo aterosclerose e
doenças cardiovasculares. Estudo canadense efetuado com
homens moderadamente hipercolesterolêmicos (32 a 68
anos) mostrou que o consumo de 7,2g/dia de extrato de
alho durante meio ano reduz em 5,5% a pressão arterial
sistólica, em 7,0% o colesterol sérico total e em 4,6%
o colesterol de baixa densidade (LDL).
A
atividade hipocolesterolêmica do alho se deve à
inibição de diversos passos enzimáticos da síntese
hepática do colesterol e a um acréscimo na excreção
de ácido biliar e de esteróis. Os componentes do alho
alicina, alinina e S-alil sulfato exibem propriedades que
inibem a agregação plaquetária. O efeito em rede de
tais propriedades resulta na prevenção da aterosclerose
e das doenças cardiovasculares.
Na
prevenção de doenças, o alho também tem merecido
destaque. Recentemente, um estudo epidemiológico
efetuado em duas regiões distintas da China, uma que
emprega o alho na culinária e outra que não o utiliza,
mostrou que a região que usa regularmente o alho tem
menores índices de morbidade e de mortalidade em
relação a região que não utiliza o alho na
alimentação.
Se
não bastasse todos os benefícios à saúde aqui
descritos, o alho ainda possui propriedades
hipoglicemiantes. O extrato de alho mediante seu
componente sulfóxido S-alilciteína, reduziu
significantemente a glicose sangüínea. O mecanismo
provável desta atuação se deve, ao menos em parte, ao
estímulo à secreção de insulina pelas células ß do
pâncreas.
Quadro 2 - Pricipais
benefícios do
consumo regular de alho na
quantidade
mínima de 8g/dia.
Aumenta a longevidade |
Reduz os riscos de infarto |
Favorece o bom funcionamento do
sistema imunológico |
Reduz a glicose sanguínea |
Reduz o colesterol LDL (ruim) |
Aumenta o colesterol HDL (bom) |
Combate bactérias e vírus |
Previne a aterosclerose |
Previne o câncer |
Melhora a qualidade de vida |
Em resumo, os dados dos estudos apontam para
diversos benefícios à saúde derivados do consumo
regular do alho. Isto torna o alho uma especiaria
extremamente atrativa de ser incluída no cardápio
diário não somente pelo seu aroma e sabor, mas também
pelos seus benefícios medicinais.
|

|

Késia
Diego Quintaes
Nutricionista
Docente
do Centro Universitário Adventista de São Paulo
Mestre
em Ciência da Nutrição
Doutoranda em Ciência da Nutrição pela FEA/UNICAMP
Bibliografia
consultada
ALDER, A. J.; HOLUB,
B. J. Garlic and fish oil for reducing serum lipids and
lipoproteins. American Journal of Clinical Nutrition,
Bethesda, v. 65, n. 7, p. 445-450, 1997.
ARUOMA, O.
I.; SPENCER, J. P. E.; WARREN, D.; JENNER, P.; BUTLER,
J.; HALLIWELL, B. Characterization of food antioxidants
illustrated using commercial garlic and ginger
preparations. Food Chemistry, S.l., v. 60, n. 2, p.
149-156, 1997.
BLOCH, A.
S. Pushing the envelope of nutrition support:
complementary therapies. Nutrition, S.l., v. 16, n. 3, p.
236-239, 2000.
ESTUDO
NACIONAL DE DESPESA FAMILIAR Tabela de composição dos
alimentos. IBGE: Rio de Janeiro, 1977.
FRANCO, G. Tabela de composição química dos alimentos.
Atheneu: São Paulo, 9 ed., 1992.
GRIMBLE, R. F. Modification of inflammatory aspects of
immune function by nutrients. Nutrition Research, S.l.,
v. 18, n. 7, p. 1297-1317, 1998.
HEINERMAN, J. The healing benefits of garlic. Nutrition,
S.l., v. 13, n. 2, p. 173-174, 1997.
OREKHOV, A. N.; GRÜNWALD, J. Effects of garlic on
atherosclerosis. Nutrition, S.l., v. 13, n 7-8, p.
656-663, 1997.
PANTOJA, C. V.; MARTIN, N. T.; NORRIS, B. C.; CONTRERAS,
C. M. Purification and bioassays of a diuretic and
natriuretic fraction from garlic (Allium sativum).
Journal of Ethnopharmacology, S.l., v. 70, n. 1, p.
35-40, 2000.
SIVAM G. .P. Garlic and Helicobacter pylori. Food and
Chemical Toxicology, S.l., v. 5, n. 5, p. 582, 1997.
SATO, T.; MIYATA, G. The nutraceutical benefit, part IV:
Garlic. Nutrition, S.l., v. 16, n. 9, p. 787-788, 2000.
|