`   

    


Medicamentos para Emagrecer : 
Indicações, Opções e Riscos

Muito se tem discutido a respeito das drogas utilizadas no tratamento da obesidade. Muitos especialistas são contra o uso de certas drogas, bem como, alertam para o abuso que muitos indivíduos, ou mesmo profissionais não-especialistas, andam cometendo.

É comum que uma pessoa que deseja emagrecer procure a farmácia em busca de uma solução rápida, como se tomar determinado "remédio" fosse o necessário para alcançar o seu peso ideal achando que, se deu certo com um "colega" dará também consigo. Porém, por trás dessa ilusória rápida perda de peso, se escondem efeitos colaterais e insucesso.

É claro, hoje, entre os especialistas, e várias pesquisas já mostraram isso, que somente o uso de drogas para emagrecer não é suficiente para uma perda de peso permamente, saudável e eficiente. A obesidade é multifatorial e num plano para perda de peso devem estar envolvidos : mudança nos hábitos alimentares, atividades físicas e uma equipe de apoio (médicos e nutricionistas).

Por outro lado, já está bem estabelecido que em indivíduos muito obesos, com complicações de saúde, há uma forte indicação para o uso de drogas para a perda de peso. Somente os médicos podem prescrever alguma droga para um indivíduo obeso, fundamentando a sua escolha em rígidos critérios clínicos para a definição correta de qual medicamento usar, bem como qual paciente deve ou não se beneficiar desse tipo de tratamento, baseando sua decisão em evidências científicas comprovadamente seguras. O Royal College of Physicians da Inglaterra recomenda que medicamentos para emagrecer sejam usados somente para adultos com IMC (Índice de Massa Corpórea) acima de 30 e que já tenha tido fracasso na perda de 10% de seu peso através de uma combinação de dieta, exercício e mudança de comportamento. Ou seja, o primeiro passo para emagrecer é dieta, exercício e mudança de hábito.

O Consenso Latino-americano em Obesidade preconiza que o tratamento medicamento pode ser amplicado quando :

  • I.M.C. igual ou maior que 30
  • I.M.C. igual ou maior que 25, se acompanhado de outros Fatores de Risco como Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus tipo 2, Hiperlipidemia, etc.
  • Quando o tratamento convencional (dieta+exercícios) não obteve êxito.
Preconiza ainda, que as premissas fundamentais para a indicação da farmacoterapia em obesidade são :
  • A medicação não deve ser o único meio de tratamento (ou seja, deve estar associada a dieta + exercícios)
  • Deve estar focada para o tratamento geral do paciente e não exclusivamente para a redução de peso
  • Sempre deve ser prescrita e acompanhada por um médico

Classificação dos fármacos

Os fármacos para o combate da obesidade se dividem em 3 grupos principais, de acordo com o seu principal modo de ação, atuando :

  1. Sobre o sistema nervoso central modificando o apetite ou a conduta alimentar
    • Catecolaminérgico : Fentermina, Fenproporex, Anfepramona (Dietilpropiona), Mazindol, Fenilpropanolamina
    • Serotoninergico : Fluoxetina , Sertralina
    • Serotoninergico + Catecolaminergico: Sibutramina
  2. Sobre o metabolismo, incrementando a termogênese (com produção de calor e maior consumo de calorias)
    • Efedrina, Cafeina e Aminofilina
  3. Sobre o sistema gastrointestinal diminuindo a absorção de gorduras
    • Orlistat
Substância
Mecanismo de Ação
Dose
Efeitos Colaterais
Nome Comercial*
Catecolaminérgicos        
Fentermina Diminue a ingestão alimentar por mecanismo noradrenérgico
30 - 60 mg/dia
Boca seca, insônia, taquicardia, ansiedade Ionamin, Adipex, Fastin, Banobese, Obenix, Zantril
Fenproporex Diminue a ingestão alimentar por mecanismo noradrenérgico
20 - 50 mg/dia
Boca seca, insônia, taquicardia, ansiedade Desobesi-M, Inobesin, Lipomax AP.
Anfepramona (Dietilpropiona) Diminue a ingestão alimentar por mecanismo noradrenérgico
40 -120 mg/dia
Boca seca, insônia, taquicardia, ansiedade Dualid S, Hipofagin, Inibex, Moderine, Obesil
Mazindol Diminui a ingestão alimentar por mecanismo noradrenérgico e dopaminérgico. Não é derivado da feniletilamina como os três anteriores.
1 - 3 mg/dia
Boca seca, insônia, taquicardia, ansiedade Dasten, Fagolipo
Fenilpropanolamina Atua aumentando a ação adrenérgica
50 - 75 mg/dia
Sudorese, taquicardia, eventualmente aumenta a pressão arterial Vende-se sem restrição em alguns países. Accutrim, Dexatrim.
Serotoninérgicos        
Fluoxetina Inibição da recaptação da serotonina
20 - 60 mg/dia
Cefaléia, insônia, ansiedade, sonolência e diminuição do libido Prozac
Sertralina Inibição da recaptação da serotonina
50 - 150 mg/dia
Cefaléia, insônia, ansiedade, sonolência e diminuição da libido  --
DexFenfluramina Age sobre a serotonina
Retirada do mercado
Sonolência, cefaléia, boca seca e aumento do ritmo intestinal. Problemas nas válvulas cardiácas. Isomeride, Delgar, Fluril, Fatinil
Serotoninérgicos e Catecolaminérgicos        
Sibutramina Inibição da recaptação da serotonina e da noradrenalina, central e perifericamente, diminuindo a ingesta e aumentando o gasto calórico
10 - 20 mg/dia
Boca seca, constipação, taquicardia, sudorese, eventualmente aumento da pressão arterial Meridia, Reductil, Plenty
Fenfluramina Age sobre a serotonina e da noradrenalina
Retirada do mercado
Sonolência, cefaléia, boca seca e aumento do ritmo intestinal. Problemas nas válvulas cardiácas. Minifage AP e Lipese AP
Termogênicos        
Efedrina Agonista adrenérgico
50 - 75 mg/dia
Sudorese, taquicardia, eventualmente aumento da pressão arterial  --
Cafeína Aumento da ação da noradrenalina em terminações nervosas potencializando o efeito da efedrina
100 - 300 mg/dia
Gastrite, taquicardia  --
Aminofilina Aumenta a ação da noradrenalina em terminações nervosas potencializando o efeito da efedrina
300 - 450 mg/dia
Gastrite, taquicardia  --
Inibidor da absorção intestinal de gorduras        
Orlistat Atua no lúmen intestinal inibindo a lipase pancreática que é uma enzima necessária para a absorção de triglicerídeos No máximo 120 mg, em 3 tomadas diárias, antes das refeições. Esteatorréia (diarréia gordurosa), incontinência fecal, interfere na absorção das vitaminas A, D, E e K, necessitando de suplementação. Xenical
* Os nomes comerciais podem ser tanto de produtos comercializados no Brasil como nos EUA

Ressalta-se que os compostos catecolaminérgicos não devem ser confundidos com as anfetaminas, apesar de poderem ser derivados destas; esses também possuem ação termogênica. Tanto os catecolaminérgicos como os serotoninérgicos, podem às vezes serem chamados em conjunto de Anorexígenos.

A Fluoxetina e a Sertralina, apesar de não serem regulamentados como medicamento anti-obesidade, pode ser útil em alguns tipos de pacientes obesos, como em comedores compulsivos, bulimia nervosa e obesos deprimidos.

Além dessas drogas, outras substâncias são usadas no tratamento medicamentoso da obesidade. Substâncias como ansiolíticos, diuréticos, fibras, fitoterápicos, fórmulas manipuladas, fórmulas naturais, hormônio do crescimento e hormônios tiroideanos. Cada qual com a sua aplicação específica, e alguns deles apresentando resultados não muito bem estabelecidos, ainda em estudo por vários trabalhos científicos a respeito da eficácia dessas substâncias.

Duas novas substâncias estão sendo estudadas e utilizadas para o emagrecimento, são elas: a Leptina e a Colecistocinina. A Leptina, neuropeptídeo com ação de supressão do apetite,  tem criado boas expectativas em torno dos seu potenciais efeitos sobre o controle da ingesta e sobre diferentes parâmetros metabólicos da obesidade; entretanto há ainda discrepância entre os estudos, necessitando de uma maior avaliação para a sua liberação. A Colecistocinina é um neurotransmissor que é capaz de produzir sensação de saciedade; muitas companhias estão testando-a, mas estão no começo, levando ainda algum tempo para a comprovação da eficiência dessa substância.

A maioria das substâncias acima citadas já foram bem estudadas. O Orlistat (Xenical), por exemplo, tem sido largamente estudado, e alguns estudos têm mostrado sua real efetividade quando comparado a grupos que usavam placebo.
 

Características desejadas do Fármaco

  • Que seu efeito final seja sobre os tecidos adiposos e não sobre a água do corpo e/ou sobre os músculos
  • Que não tenha efeitos colaterais importantes e sejam bem tolerados (a curto e longo prazos)
  • Que sejam comprovados por estudos clínicos confiáveis, e que sejam aprovados pelas organizações competentes de cada país.


Duração do tratamento

Sabe-se que a suspensão temporária desses fármacos leva a retomada de ganho de peso (parecido ao que acontece com medicações antidiabéticas ou antihipertensivas). Dessa forma, aconselha-se que a duração do tratamento seja prolongada, tanto quanto seja necessário, em particular em pacientes que apresentem outros fatores de risco. Ressalta-se novamente que o uso isolado do medicamento deve ser evitado. A dieta e os exercícios físicos devem estar fortemente inclusos no tratamento, para que quando da suspensão gradual do medicamento, o novo peso seja mantido, conforme mostram algumas pesquisas realizadas.

Por outro lado,  se após 3 meses de tratamento medicamentoso não se atingir 5% de perda de peso, o medicamento deve ser reavaliado pelo médico, ou mesmo suspenso por este, segundo afirma o Royal College of Physicians da Inglaterra.

 

Problemas a longo prazo

O uso de qualquer medicamento pode levar a simples efeitos colaterais, suportáveis, e que não agredidem seriamente a saúde do indivíduo, mas também podem ocasionar sérios efeitos, com prejuízo a saúde. Daí a necessidade da realização de estudos clínicos bem controlados e bem desenhados (duplo-cego, randomizados, multicêntricos) para a real comprovação da eficácia e da isenção de efeitos colaterais mais sérios.

Um exemplo de um efeito colateral sério após o uso de drogas para emagrecer, foi o que ocorreu com a combinação "phen-fen" (Fentermina+Fenfluramina, comercializados como Pondimin e Redux). Em 8 de julho de 1997, um grupo de pesquisadores da Clínica Mayo, relatou 24 casos de mulheres que haviam desenvolvido uma doença nas válvulas cardíacas após a utilização dessa combinação. A partir de então, o FDA (Food and Drug Administration) recebeu várias notificações de novos casos, inclusive de pacientes que só usaram Fenfluramina ou Dexfenfluramina. Então, os laboratórios responsáveis retiraram o medicamento do mercado, e iniciaram uma extensa pesquisa sobre esse grave efeito colateral. Alguns estudos mostraram que não há evidência de efeitos colaterais do tipo infarto do miocárdio, miocardiopatia e alguns tipos de doenças valvulares, mas comprovaram que realmente há uma maior incidência de regurgitação aórtica devido ao comprometimento da válvula cardiáca aórtica. Recentemente, os laboratórios envolvidos pagaram $ 3,75 bilhões de doláres em indenizações aos milhares de consumidores que utilizaram essas medicações. É recomendado aos pacientes, que fizeram uso destas medicações, que procurem um médico para fazerem um "check-up" para se excluir qualquer possibilidade de seqüelas, apesar de ser pequeno o número de pacientes afetados.
 

Conclusões

O uso de medicamentos ou qualquer outra substância para emagrecer é eficaz no tratamento da obesidade, mas somente nos casos que tenham indicação. Por isso, nada de tomar medicações por conta própria, fuja de qualquer um que lhe ofereça fórmulas, remédios... O que dá certo para alguém, pode causar sérios danos à sua saúde.

Como já foi dito várias vezes neste artigo, o tratamento para a obesidade é fundamentalmente uma mudança de comportamento (alimentação saudável e exercícios). Procure o apoio de profissionais especializados, como médicos e nutricionistas, eles sim saberão escolher o melhor plano de emagrecimento, e também saberão aplicar, quando necessário, algum medicamento para ajudar no tratamento.

Assim, antes de pedir ao seu médico ou comprar o "remédio" na farmácia, por conta própria, o que é pior, pergunte-se a si mesmo se você está pronto para mudar seus hábitos de vida.

 

Claudio Giulliano Alves da Costa
Médico - Pesquisador Associado do NIB/UNICAMP

 
 
 

Para saber mais, visite as Fontes e Links deste artigo :