A Formação do Cérebro e a Alimentação

A formação normal de um ser humano requer cuidados especiais sobre muitos aspectos. Um desses aspectos, talvez até o maios importante, é o alimentar, principalmente no que diz respeito à formação corpórea (física e emocional) normal de um indivíduo qualquer, quanto a sua saúde, desenvolvimento e crescimento dos órgãos internos e externos desse ser humano.

Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que para a formação mais adequada de um cérebro humano, os cuidados são muito especiais principalmente com a nutrição (aspecto físico) e com o relacionamento humano (aspecto psíquico ou emocional).

Devemos saber, e isso é extremamente importante também, que o tempo necessário para a formação completa do cérebro dentro dos limites de normalidade, ou seja, para um cérebro estar completa e perfeitamente formado vai desde o momento do nascimento (0 ano) até o 5o  ano de vida. Este é um período crítico e extremamente importante da vida cerebral de um ser humano normal. Nesse período, são necessárias a ingestão diária de 70 a 80 gramas de proteínas (todos os dias ininterruptamente).

Se esse esquema for violado, esse cérebro não se desenvolverá, ou se desenvolverá alterado ou incompleto. Esse indivíduo não terá a capacidade de raciocínio lógico, e terá dificuldades até em pensar normalmente, terá dificuldades de compreensão, de aprendizado, e de relacionamento, sendo ainda um indivíduo apático e não participativo, não se importando com o que acontece ao seu redor.
 

Na década de oitenta, COLOMBO et. al. (1988) estudaram o desenvolvimento mental das crianças, a partir do Quociente de intelectualidade (Q.I.), em diferentes momentos (nos dois primeiros anos de vida, na idade pré escolar e na idade escolar), em relação ao estado nutricional, observando que o retardo do crescimento e o baixo Q.I. estavam associados aos efeitos da pobresa. 

POLLITT (1988) comenta que alguns trabalhos realizados no Mexico, Guatemala, e Colombia, procuraram relacionar intervenção nutricional nos primeiros anos de vida e rendimento escolar. 

Em um estudo realizado em Baruerí no estado de São Paulo, por LEI et al. (1992) verificou-se a associação significativa entre o deficit estatural aos sete anos de idade e rendimento escolar. 

A desnutrição, nos primeiros anos de vida, prejudica o desenvolvimento físico e mental, a saúde e a sobrevivência de seus portadores (JELLIFE, 1968;  JELLIFE & JELLIFE, 1972;  PUFFER & SERRANO, 1973;  KELMAN & McCORD,  1978;  CHEN et al., 1980).

Um aspecto que tem chamado a atenção de vários  pesquisadores é o da interferência da desnutrição no processo de aprendizagem (TURIN et al., 1978; CELEDON & COLOMBO, 1981;  ALBANESE et al., 1983;  GALLER et al., 1984).

Alguns outros autores têm demonstrado associação entre deficit de estatura e desenvolvimento da função mental (Cravioto e Derlicardie, citados por WATERLOW, 1978;  Richardson citado por WATERLOW, 1978;  TURINI et al, 1978;  McGREGOR, 1982;  CHOUDHRY & RAO, 1984;  COLOMBO, 1988).

Mais uma vez fica demonstrado que enquanto não forem evidenciadas e alteradas as causas básicas da desnutrição e da fome, derivadas das condições estruturais da sociedade, a suplementação alimentar pode atenuar o problema mas não contribui para a solução LEI, at al. (1993).

 

Prof.Mário Maccari Filho, M.Sc.
Cirurgião Dentista
Professor Adjunto de Patologia e Propedêutica Bucal
Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCC
Pesquisador Associado do NIB/UNICAMP

 
 

Bibliografia

  1. ALBANESE, J. º R. ; CARROL, L & ALBANESE, ª ª Scholastic progress and nutritional status of elementary school children. Nutrition Reports International, Los Altos, v. 28, n.3, p. 441-450, 1983
  2. CELEDON, J. M. & COLOMBO, M. Desnutrición y capacidad de aprendizaje; na´lise crítico. Revista Chilena de Nutrición, Santiago, v. 9, n. 3, p´. 1289-197, 1981.
  3. CHOUDRY, M.  &  RAO, K. V. Association  of growth status and mental function in preschool children. Indian Journal of Nutrition and Dietetics, Coimbatore, v. 21, p. 1-18, 1984.
  4. COLOMBO, M. ; ANDRACA, I. & LOPEZ, I. Mental development and stunting. In: WATERLOW, J. C. Linear growth retardation in less development countries. New York: Raven Press, 1988, p. 201-213. (Nestlé Nutrition Workshop Series, 14).
  5. LEI, D. L. M. Estudo antropométrico da evolução do estado nutricional de crianças desnutridas beneficiárias de suplementação alimentar. São Paulo: 1986. 107 p. Dissertação (Mestrado) - Facuildade de Saúde Pública da USP.
  6. MONTEIRO, C. A.  Saúde e nutrição das crianças de São Paulo. São Paulo:  HUCITEC, 1988, 165 P.
  7. POLLITT, E. Desnutrición y rendimiento escolar. In: CUSMINSKY, M.;  MORENO,  E. M. & OJEDA, E. N. S. Crescimiento y dsarrollo. Washington: Orgaizacion Panamericana de La Salud, 1988. p. 324-348. (OPAS-Publicacion Cientifica, 510).
  8. TURINI, T. L.;  TAKATA, P. K.;  TURINI, B.;  RIBEIRO, A. B.;  LANDGRAF, A.;  SCHIMTH, S.; GOULART, M. A. L. & GUITTI, J. C. S. - Desnutrição e aproveitamento escolar: estudo entre escolares da primeira série do primeiro grau da zona urbana periférica de Londrina, PR, Brasil. Revista de Saúde Pública Pública, São Paulo, v. 12, p. 44-54, 1978.
  9. WATERLOW, J. C. Observations on the assessment of protein-energy malnutrition with special reference to stuting. Courrier,  Paris, v. 28, p. 455-460, 1978.